terça-feira, 16 de junho de 2009

Ensino à distância, a panacéia da educação brasileira

Jornal Folha de São Paulo - 26/05/2009

Temos assistido a diversos movimentos do governos federais, estaduais e das reitorias das universidades públicas brasileiras, na direção de ampliar as plataformas de ensino à distância no conjunto do sistema de ensino brasileiro. As medidas tomadas, como sempre, pouco refletem uma verdadeira discussão da comunidade universitária – docentes, funcionários e estudantes. Os maiores interessados pouco são consultados.
O ensino à distância, que para nós, das estaduais paulistas, se materializa no Projeto da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), vem no sentido de substituir o ensino presencial e precarizar ainda mais a carreira docente. O intuito é claro se olharmos, por exemplo, para o curso inicial da Univesp, que visa formar, no curso de pedagogia, 5000 professores não-licenciados que atuam no ensino infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental. O curso será de 3 anos e cada turma de 50 alunos deverá ter como responsáveis 1 orientador e 2 tutores, que servirão como apêndices das ferramentas de ensino à distância - utilização de softwares e programas transmitidos em parceria com a TV Cultura.
Ao contrário do ensino à distância dos países desenvolvidos, reivindicado pelos defensores da introdução desse tipo de ensino no Brasil, que serve como mais uma ferramenta a ser utilizada no processo de aprendizagem, aqui o ensino à distância vem para substituir a “mão-de-obra custosa” dos docentes nas Universidades, ao mesmo tempo em que faz com que “pacotes” de ensino sejam apresentados e repetidos sem grandes gastos. Ele significa a junção do útil ao agradável – redução de custos e maior controle sobre o que é ensinado. A garantia do “aprendizado” deve ser controlada pelo Estado através de avaliações como o ENADE e outras que surgirão. O Estado deixa de ser o provedor e passa a ser o fiscalizador do Ensino. A figura do docente passa a ser a figura do monitor, ou do tutor, e o processo de ensino-aprendizagem se torna manco, passa a ser basicamente um processo de aprendizagem fiscalizada.
Esses pontos destacados vêm na contramão de todo o discurso que vem sendo repetido pelos governos e reitorias. A expansão de vagas da universidade pública, gratuita e de qualidade não passa de demagogia. É necessário que tenhamos clareza e consigamos demonstrar para a população que a expansão tão falada não é da universidade pública, gratuita e de qualidade, mas da universidade telecurso.
Se não nos debruçarmos firmemente em cima do significado a longo prazo do ensino à distância e se não formos capazes de responder com um projeto alternativo de expansão de vagas e de universidade pública, a universidade que conhecemos e que gostaríamos que fosse acessível a todos os brasileiros está fadada a desaparecer.

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